quarta-feira, 25 de maio de 2011

O Ultimo Beijo Capítulo 38

Porque estávamos brigando afinal, aquela hostilidade toda, depois de tudo o que passamos juntos, era muito injusto e no fundo muito inevitável também.

- Amanha ligo para saber como você está. – Disse ele.

- Não quero ficar sozinha. – Disse sem o encarar.

- Não vai, seu pai deve estar chegando.

- Você está fugindo.

- Não. Estou cansado, preciso ir para casa.

- Cansei das suas mentiras Gabe. – Ele me olhava com indiferença. – O que aconteceu lá, com Michael?

- Não sei.

- Pare de mentir para mim.

- Não estou mentindo Jasmim. Eu não sei. – Lá estava ele mexendo em seu cabelo, coisa que o entregava, quando estava nervoso.

- Então porque parece que está me escondendo algo?

- Porque você tem imaginação fértil, talvez? – Esse cinismo de Gabe, às vezes deixava de ser sexy e virava muito irritante.

Não sei se foi o stress, o cansaço, a mudança na minha vida, as novas informações ou o medo imposto por Michael, seja qual for o motivo, meu corpo entrava em colapso, ouvia a chaleira chiar ao fundo, anunciando que a água havia fervido, mas não conseguia me mexer, sai de perto do fogão com muita dificuldade, não queria cair em cima dele quente e eu ia cair isso era um fato que ficou comprovado logo depois.

- Jasmim! Você consegue me ouvir? – Tentei responder, mas não encontrava minha voz, nem sabia ao certo o que estava sentindo. – Vou te levar ao medico. - Não sei se logo em seguida ou se demorou alguns minutos, mas meu pai entrou em casa e deu de cara com aquela cena, sua filha caída no chão tendo espasmos com um rapaz em cima dela.

- O que está acontecendo aqui? – Nunca ouvi meu pai usar este tom de voz. Conseguia ouvir tudo a minha volta, mas me sentia pressa dentro do meu corpo, senti algumas sensações iguais as que aconteceram quando Michael morreu, meus músculos estavam virando pedra, meus olhos pareciam que iam explodir.

- Senhor Precisamos levá-la ao hospital. – Gabe parecia realmente nervoso.

- O que aconteceu com ela? O que você fez? – Não conseguia ver o rosto do meu pai, mas seu tom de voz era novo para mim, medo talvez?!

- Senhor, não há tempo, ela precisa de cuidados médicos já.

- Saia de perto da minha filha. – Queria ajudar Gabe, defende-lo daquele ser estranho que depois de 16 anos ousava se preocupar, mas não era capaz nem de me ajudar naquele momento.

- Não vou deixá-la assim. – Eu ainda estava estirada no chão da cozinha, Gabe estava ao meu lado e meu pai em pé parado próximo a nós.

- Saia da minha casa! – Meu pai devia estar muito abalado com a cena, para fazer o que fez. Ele foi para perto de Gabe e saiu o arrastando pelo chão, Gabe conseguiu levantar e tirar as mãos do meu pai, de sua camisa.

- Não vou a lugar algum, com ela desse jeito, nem tente me impedir. – Meu pai partiu para cima dele com o punho fechado, Gabe desviou a maioria das suas tentativas, ele era muito bom em luta, mas nós dois descobrimos que meu pai também era.

Meu pai acertou Gabe algumas vezes, fazendo o lábio dele sangrar, se pudesse me levantar, se pudesse parar aquilo. Incrivelmente Gabe não revidou nenhum soco, só se protegeu, isso não condizia muito com a sua personalidade, mas sabia que ele não estava fazendo aquilo pelo meu pai, estava fazendo aquilo por respeito a mim.

- Saia da minha casa e não volte mais aqui ou vou levá-la para longe. Tão longe que você nunca mais vai encontrá-la. – Meu pai disse se afastando dele. Gabe agora andava de um lado para o outro com as mãos atrás da cabeça.

- Não... Nem pense em fazer algo do gênero, não vou deixar isso acontecer.

- Sou o pai dela. Faço o que bem entender. Agora saia daqui ou você nunca mais vai vê-la.

- Eu vou, mas não faça isso... Só não... Isso não. – Gabe saiu de casa, praticamente levando a porta junto.

Isso só fez piorar meu estado e meu emocional estava um caco. Meu pai me pegou nos braços assim que chamou uma ambulância. Estava com tanta raiva dele, só queria que ele fosse embora, para sempre.
Não me lembro de entrar na ambulância, nem de chegar ao hospital, estava começando a pegar trauma daquele lugar. Devo ter acordado horas depois ou talvez fossem minutos, escutei a voz exaltada do meu pai.

- Não acredito que você veio até aqui. Você é inacreditável.

- Senhor precisava saber como ela está. Não teria paz.

- Com você por perto, sou eu que não tenho paz.

- Como ela está? – Gabe perguntou, com uma voz tão deprimente que me deu vontade de chorar.

- Você não desiste mesmo?! – Meu pai suspirou como se a única forma de fazer Gabe ir embora fosse ceder. – Ela está estável, mas não sabem o que a Jasmim tem. O que aconteceu afinal?

- A amiga dela, foi raptada, quando estava indo para casa e creio que isso foi demais para ela. – Admirava a capacidade de Gabe de mentir contando meias verdades.

- A Ana foi raptada?

- Sim, mas Danny a encontrou.

- Quem diabos é Danny? – Imaginei a cara de espanto do meu pai.

- O Namorado dela, o que estava na festa de aniversario da Jasmim.

- Ah sim, claro.

- A Ana já está em casa.

- Meu Deus. Preciso ligar para os Werner. – Meu pai deve ter se afastado para ligar, porque Gabe entrou no quarto.

- Oi. – Dentre todos os nossos comprimentos aquele foi o pior.

- Oi. – Queria dizer muitas coisas e ao mesmo tempo não dizer absolutamente nada.

- Como você está?

- Zonza por causa dos remédios, cansada por causa dos acontecimentos, com medo pela possibilidade de você ir embora.

- Não vou a lugar algum. A menos que você peça. Você quer que eu vá embora? – Seus olhos sustentavam os meus, com Gabe era sempre assim, na lata.

- Não. Talvez. Não sei. – Ele se aproximou e segurou minha mão. – Você realmente matou a namorada do Michael?

- Sim.

- Meu Deus. – Soltei minha mão dele. Meus medos se tornaram verdadeiros. Gabe matava pessoas, beijava pessoas e eu havia matado um homem.

- Jasmim, eu quero mudar, mas preciso de você para isso.

- Foi de propósito?

- O que?

- Você a matou de propósito?

- Não. Ela não. – Como ele conseguia ser tão frio?!

- Como assim ela não?

- Matei outras de propósito. – Entrei em choque. – Estava perdido, não dava valor a nada, mas isso foi antes.

- Antes do que?

- De conhecer você.

- Gabe. Você me conhece só há alguns meses, não creio que...

- Que o que? Você não acredita que mudei?

- Não é isso... Não sei... Você matou pessoas de propósito.

- Esse não é mais quem quero ser.

- E quem você quer ser?

- Não sei. Talvez alguém normal, que estuda, trabalha e não tem metade dos problemas que tenho. Não sei quem quero ser, mas sei o que quero e o que não quero e... Não quero perde-la.

- Gabe. – Fechei meus olhos, estava confusa, perdida, mas acima de tudo apaixonada. – Você não vai. – Ele deu aquela sua risada maliciosa. – Você sempre consegue o que quer de mim.

- Tenho meus truques. – Fui obrigada a sorrir, meu pai entrou no quarto com o celular na mão e a boca aberta.

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