quarta-feira, 25 de maio de 2011

O Ultimo Beijo Capítulo 34

Entrei em estado catatônico, não sei quanto tempo demorou para chegarmos ao nosso destino, não pensei em nada nesse tempo, um torpor tomou conta de mim.
Senti quando o carro estacionou, outro carro parou do nosso lado, não me movi até que vi dois caras carregando meu namorado inconsciente. Abri a porta do carro e sai tropeçando, Danny veio ao me encontro e me segurou, os caras entraram com Gabe e Daniel não me deixou ir atrás, gritei, me debati, chutei, esperneei, mas ele era mais forte que eu. Quando fecharam a porta por onde entraram com ele, Danny me soltou.

- Qual é o seu problema afinal? – Berrei assim que consegui olhar em seus olhos. Minha cabeça parecia que ia explodir, o sangue voltou a escorrer, só ai me dei conta de que no carro ele havia parado de jorrar. Os olhos dele desviaram dos meus até o carro de onde tiraram Gabe.

- Ana! – Olhei para trás e a Ana saia de lá, com algum tipo de tecido, pressionando o ferimento. Corri, para ajudá-la. Danny não se moveu.

- Me perdoe meu anjo. Eu sinto tanto. – Ele disse a tirando do meu braço e a apertando forte contra o peito. Isso não era justo, queria que Gabe estivesse bem também, porque eles estavam bem e Gabe estava morrendo em algum lugar dali?! Oh meu Deus o que estava pensando, era a Ana, a dor estava tomando conta da minha razão. A Ana saiu dos braços dele e veio até mim.

- Amiga... Sei que não te consola... Mas ele resmungou seu nome o tempo todo. – Tive uma crise de choro, não poderia perdê-lo, não ele. O que mais poderia ser tirado de mim?! Se existia um Deus, onde ele estava que não via isso?!

- Vamos! – O cara mal humorado que veio comigo, me puxava pelo braço, para longe da Ana e do Danny. Para longe de onde haviam levado Gabe, demorei uns minutos para reagir, estava exausta demais.

- Onde está Gabe?

- Sendo tratado o melhor que podemos. – Esse cara era frio demais, assim como o lugar, aquele lugar fazia o castelo do Conde Drácula parecer divertido.

- O melhor que vocês podem?! Isso não é o suficiente. – Me soltei de suas mãos e comecei a me sentir muito, muito tonta.

- Não é o suficiente, mas é tudo o que ele tem agora. – Foram as ultimas palavras que ouvi antes de desmaiar, de novo.

Quando acordei novamente estava deitada em uma cama, muito grande, estilo aquelas camas antigas com véu caindo do teto, sentei e me senti zonza, lembrei do sangramento na minha cabeça e coloquei meus dedos no local que estava latejando.

- Vai ficar cicatriz, mas dá para cobrir com uma franja. – Olhei para o canto do quarto, uma mulher estava sentada em uma cadeira, não conseguia ver seu rosto direito a luz era muito fraca, procurei para ver de onde vinha a iluminação e encontrei vários castiçais espalhados pelo quarto. Velas... Serio?!

- Hum. Quem é você? – A mulher se levantou e caminhou até a cama.

- Te trouxe até aqui você se lembra disso? – Fiz que sim com a cabeça. – Bom, as apresentações ficam para mais tarde.

- Quanto tempo eu dormi?

- Três dias.

- O que? Não, não pode ter passado tanto tempo.

- A pancada na cabeça foi forte. – Disse ela.

- E a Ana? E o Gabe?

- Sua amiga foi para casa, Gabe... Bom Gabe... É melhor lhe mostrar. – Ah isso era mal, ela não tinha coragem de me falar.

Saímos do quarto, eu ainda vestia as roupas que usei no piquenique, mas isso não estava me incomodando agora. Passamos por vários corredores e portas, quadros horripilantes estavam pendurados pela parede, tudo tinha pó, cheirava a mofo, o chão rangia ao pisarmos nele, a casa emitia ecos, casa não, castelo, sim isso me lembrava de ter visto, era uma espécie de castelo.
Entramos em um tipo de sala oval. Havia algumas pessoas lá que me encaravam de modo muito estranho, mas isso não era o assustador, assustador eram os gritos vindos de trás de uma porta.

- Onde ele está? – Perguntei após um tempo. Ninguém me respondeu, mas os olhares confirmaram meus temores, ele estava atrás da porta, era dele aqueles gritos. Gritos de desespero, de dor. – Oh Meu Deus! – Meu corpo inteiro estava amortecido. – O que há de errado com ele? – Perguntei enquanto me dirigi à porta, havia vários tipos de tranca, do lado de fora. Olhei para aquelas pessoas horrorizada. – Vocês não podem deixá-lo lá assim. - Danny apareceu, foi um alivio, eles eram amigos, ele não ia deixar Gabe sofrer daquele jeito. - Danny, nós temos que solta-lo.

- Não podemos. – Ele disse de cabeça baixa, parecia tão cansando, tão exausto.

- Como assim? Danny, ele é seu amigo. – Aquilo não estava acontecendo, aquilo não podia estar acontecendo.

- Ele precisa se alimentar Jasmim. – Era esse o maldito problema?!

- E? Não entendi ainda o problema? Vocês não fazem isso sempre?

- Sim, mas...

- Mas o que Daniel?

- Ele... Nós não sabemos os efeitos de Michael ter se alimentado dele, provavelmente... Ele... Não vai parar até matar a pessoa. Ele pediu para ser trancado.

- Ok. – Andei de um lado para o outro, com as mãos na cabeça. – Deixem ele se alimentar de mim. – Ouvi risos.

- A garota é louca. – Um Cara não parava de rir. – Por isso o Gabe gosta dela. – Ele estava sendo um babaca, mas no fundo gostei de ouvir aquilo, Gabe falava de mim pra eles.

- Está fora de cogitação Jasmim. – Danny agora me olhava.

- Por quê?

- Por quê? Bom, vejamos porque ele vai matá-la em minutos e depois vai nos matar por termos deixado. – Isso veio de outra menina, mas não era aquela que estava no quarto comigo, que pessoas eram aquelas? Assim que pensei na pergunta soube a resposta, se eles sabiam o que Gabe era só tinha uma explicação, eram todos sugadores também.

- E o que acontece se ele não se alimentar? – Perguntei. Todos se entreolharam. – Danny?

- Ele morre. Nós vamos dar um jeito nisso Jasmim, não se meta. – Aquele não era o Danny que conhecia, ele não era frio assim.

- Desculpe, mas não posso deixá-lo morrer. – Comecei a abrir as trancas, Gabe dava socos e chutes na porta que devia ser de ferro puro. Danny avançou em velocidade sobre humana para meu lado e me empurrou de leve, estava a beira de um ataque de nervos.

- Meu Deus Danny, pare com isso, aja como um ser humano normal, não fique usando velocidade excessiva.

- Nós não somos seres humanos normais. – Reconheci aquela voz. Era o cara do parque, aquele que vi conversando com Gabe. Luke.

Ignorei aquilo, ignorei a todos e tentei avançar para perto da porta novamente, Danny não saiu da frente dela, vários braços me agarraram, chutei, me debati, empurrei, gritei, chorei, mas não foi o suficiente, eles me levaram de volta para o quarto. Me jogaram na cama, saíram e trancaram a porta.
Tentei abri-la, forcei o trinco, berrei, mas nada aconteceu e ninguém apareceu. Sentei no chão em um tapete que deve ter sido muito caro na época de Dom Pedro II e chorei, Gabe estava morrendo e eu não podia fazer nada para impedir.
Algum tempo depois me dirigi à janela, caia uma tempestade lá fora, não dava para enxergar nada a não ser os raios, em um dos clarões percebi que não estava no térreo, para ser sincera estava bem acima do chão. Abri a janela, a chuva cortava meu rosto, mas não liguei queria poder morrer afogada nela.
Olhei para baixo e percebi que havia um beiral bem largo, conseguiria andar por ele e encontrar uma janela destrancada?! Só havia um jeito de descobrir.
Passei minhas pernas para o lado de fora e me apoiei no beiral, virei de frente para o interior do quarto e comecei a andar, parecia que aquilo não acabava mais, a chuva não dava descanso e comecei a achar que aquela não tinha sido uma boa idéia.
Finalmente cheguei em uma janela, forcei, mas estava trancada, teria que achar outra. Caminhei mais um pouco, tropecei varias vezes e a ironia era que toda vez que isso acontecia rezava para não morrer, mas ao mesmo tempo estava indo ao encontro de Gabe, para ele me matar.
Dei mais sorte na segunda janela, ela estava destrancada, entrei ensopada em alguma sala, quantas salas havia naquele lugar?! Encontrar Gabe não seria difícil, bastava seguir os gritos. Após um tempo encontrei a saleta oval, não havia ninguém lá, comecei a abrir as trancas da porta.

- Estou indo Gabe. Calma. Já vai passar. – Minhas mãos tremiam, sabia que era isso que queria fazer, mas sentir medo era inevitável, com sorte morreria rápido.

- Jasmim. – Desde o bosque foi à primeira vez que ouvi sua voz, isso só fez meu choro aumentar, já estava na terceira trava e ainda tinha outras três. – Não entre aqui. – Seus gritos, socos e chutes voltaram, sabia que ele não podia se controlar aquela altura, seja o que for que fosse encontrar naquele lugar, não era meu Gabe.

- Vai ficar tudo bem. – Não, não ia ficar nada bem.

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