terça-feira, 24 de maio de 2011

O Ultimo Beijo Capítulo 26

Deitei na cama, meu estomago roncava, não havia comido nada além da canja da tia Su, mas a fome era o menor dos meus problemas aquela noite, sem contar que havia uma espécie de caçadores atrás de nós, Gabe estava deitando na cama, só de bermuda, tentei pensar em outra coisa, mas estava muito, difícil. “Pensa em outra coisa, pensa em outra coisa... Ah meu Deus, ele está na mesma cama que eu, na mesma cama, só de bermuda... Foco Jasmim, não foco não, porque meu foco está localizado naquele peito nu e ainda úmido, aí preciso de ajuda” Gabe ria ao meu lado, ele estava virado para mim, apoiado em um braço, só de bermuda.

- Jasmim você está bem?

- Sim, por quê? – As palavras saíram guspidas da minha boca, como se o simples fato de abri-la fosse quebrar minha concentração.

- Talvez porque, você está agarrada ao lençol, com cara de dor.

- Impressão sua. – Ele segurou minhas mãos para me fazer soltar do lençol, os nós dos meus dedos já estavam brancos. Aquele gesto fez meu coração saltar, não agüentava mais essa sensação sempre que Gabe estava perto, isso nunca diminuiria?!

- O moletom ficou bem em você.

- Claro, é três vezes o meu tamanho e tem o pateta estampado, perfeito. – Ele estava rindo de mim, de novo.

- Se considere com sorte, só achei uma bermuda, vou ter que ficar sem camisa. – Jesus, ele estava fazendo de propósito, não queria, mas acabei olhando mais atentamente aquele, peito, barriga, analisei cada pintinha do seu corpo, cada detalhe, era demais para uma menina de quinze anos.

- Percebi.

- Notei que você percebeu. – Ótimo.

- Estou cansada e com sono. – Ele não parava de sorrir, queria entrar em baixo dos travesseiros. – Qual é a graça?

- Nenhuma. – Do nada ele ficou serio, com uma expressão vazia. – Obrigado.

- Pelo que?

- Por ter voltado, se você não estivesse lá, eles teriam... Obrigado.

- Não podia deixá-lo lá, ouvi seus gritos e... – Minha garganta deu um nó, quando me lembrei dele gritando. – Quando entrei lá e te vi daquele jeito, só...

- É. – Foi o que ele me disse. – Bom você está cansada e com sono lembra, vamos dormir.

- O que eles caçam exatamente?

- Jasmim...

- Qual é, eu estava lá, os vi. – Gabe deu um longo suspiro.

- Eles caçam... O que eu sou.

- E o que você é?

- Boa tentativa, mas não foi dessa vez. – Ele tentou rir, mas não conseguiu.

- Não vou contar a ninguém.

- Esse não é o maldito problema, confio em você. – Ele se jogou no travesseiro de barriga para cima. – Não confio neles e no que podem fazer a você, e eles não são nossos únicos problemas.

- Poderia ajudar mais se você me explicasse.

- Você saber de tudo, só vai complicar mais as coisas, se eles suspeitarem que você sabe das coisas, vão presumir que é importante para mim...

- Ah claro, ninguém aqui quer isso. – O que havia de errado comigo, porque estava sempre na defensiva, quando estava com ele.

- Jasmim! – Ele alterou a voz. – Você está sempre, sempre entendendo tudo errado. – Gabe levantou da cama e caminhou até a porta.

- Aonde você vai?

- Fazer uma ronda e pegar comida, não agüento mais seu estomago roncando. - Não havia percebido que meu estomago estava roncando, puxei o travesseiro e tentei me sufocar, não deu certo.

Cochilei por algum tempo, acordei com Gabe me chamando, ele sentou na cama, com cara de cansado, não fisicamente, mas como se carregasse o mundo nas costas.

- Trouxe batata frita, mas está fria, o local mais próximo era meio longe e estou sem carro. – Sentei correndo, meu estomago estava nas costas, comecei a comer compulsivamente, mesmo frio, parecia à melhor coisa do mundo.

- Obrigada. Como vamos para casa?

- Vou chamar um taxi, logo cedo. Vai dar tempo de você ir ao colégio.

- Taxi? Vai sair uma fortuna.

- Você me subestima. – Já devia ter entendido que dinheiro não era problema ali, o cara tinha uma academia com seu nome. – Estava mesmo com fome – Ele apontou para o pacote com as batatas, já estava quase no fim.

- Oh meu Deus. Você quer? Já comeu?

- Já, comi lá. – Achei que era mentira, mas não adiantava argumentar com ele. - Quero outra coisa.

- O que? – Ele se aproximou de mim, bem perto, começou a mexer em meu cabelo, tirou o pacote de batatas da minha mão e beijou meu pescoço, meu corpo todo se arrepiou, Gabe riu contra minha pele, aquilo só fez os arrepios piorarem, beijou minha orelha, já estava ofegante, me deu um selinho.

- Só vou te beijar se você me pedir. – Ele passou a língua nos meus lábios, mas não me beijou, Gabe estava falando serio?! Estava com a boca aberta, olhos fechados e provavelmente com cara de boba. – Peça.

- Aham... Aham. – Qual é não dava para falar com ele, beijando meu pescoço e passando a mão pelo meu cabelo.

- Peça.

- Me beije. – Gabe apertou sua mão no meu cabelo.

- Peça direito. – Aquilo não estava acontecendo, era tortura do mais alto nível.

- Me beije Gabe. – Olhei para ele, aquela boca. – Por favor. – Ele nem hesitou, me beijou, ferozmente, mas logo saiu de perto de mim.

- Isso foi por aquele dia no bosque, lembra? Quando disse que te dava nojo e que perderia meu tempo, tentando te beijar de novo.

- Você já me beijou depois daquele dia.

- Verdade, mas dessa vez... Você implorou. – Lá estava meu sorriso cínico, atirei um travesseiro nele e fiquei emburrada.

Me tranquei no banheiro, garoto metido e esnobe e... E... Tremendamente lindo, que ódio. Lavei meu rosto, tentei me acalmar, senti na privada e tentava criar coragem para sair do banheiro, ou uns ruídos na janela, meu coração disparou, precisava ir a um cardiologista urgente.
Fiz a idiotice de me aproximar, para analisar melhor o barulho, do nada a janela se abriu e algo grudou no meu rosto, dei um berro, Gabe arrebentou a porta do banheiro e me olhava assustado, consegui tirar aquilo da minha cara.

- Ah é só um gato. – Foi um alivio.

- É. Agora tenho que pagar uma porta nova. – Começamos a rir, ele quase derrubou a parede toda. – Vou colocar o gato para fora.

- Não! Deve estar com fome e com frio. – Não o deixaria fazer isso, colocar o bichinho na rua.

- Você vai levá-lo para casa?

- Sim. – Respondi sem hesitar.

- Seu pai vai concordar?

- Não. – Sem hesitar de novo, meu pai nunca permitiu animais em casa. – Só até acharmos um lugar para ele.

- Droga!

- Que foi?

- Você falou no plural. – Sorri maliciosamente para ele.

- Quem vai pedir, por favor, agora?! – Tentei dar uma de Gabe, mas não deu certo, a frase não fazia sentido e ele me olhava com cara de não entendi. Foi idiota.

Fomos todos para a cama, nós três, Gabe, eu e o gatinho preto, que deveria ter uns três meses de vida, estava na hora de dormirmos, engraçado como só naquele momento, senti meu corpo doer.

- Aí.

- O que foi? – Gabe perguntou preocupado.

- Meu tórax está doendo.

- Tire a blusa.

- Ficou maluco?

- Vamos ver o que é Jasmim, talvez precise ir ao hospital.

- Não mesmo.

- Não foi uma pergunta, foi uma ordem. – Não estava em meu melhor estado mental, porque obedeci. – Acho que não precisa de um hospital, mas vamos passar em uma farmácia e comprar pomada para passar em você. – O cinto de segura me deixou com uma faixa nada interessante no corpo, achei que Gabe fosse se aproveitar da situação, mas não, assim que coloquei o moletom, ele deitou na cama e não disse nada.

Acordei com Gabe se remexendo na cama, incrivelmente tinha sido uma noite sem pesadelos, acho que estava cansada demais até para isso. A cena de nós na cama devia ser engraçada, se observada de longe, lá estava eu estirada sob o peito de Gabe, ele se remexendo, porque o rabo do gatinho estava na sua cara e o gato, dormindo bem ao lado do rosto dele, por um segundo, consegui imaginar como seria minha vida com ele, com eles.

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