terça-feira, 24 de maio de 2011

O Ultimo Beijo Capítulo 23

Entramos em seu eclipse preto, coloquei o cinto de segurança e procurei não pensar em mais nada, deixei os problemas do lado de fora do carro, os minutos que se seguiram foram de silencio completo, não fazia idéia de onde ele estava me levando.
Gabe ligou o radio, colocou seu mp4 conectado no som, não acreditei no tipo de musica que ele ouvia.

- Musica clássica? Serio? – Gabe deu seu sorriso cínico, que me deixava, louca.

- Me faz relaxar.

- Olha só nem suspeitava desse seu lado.

- Não suspeitava que você fosse bem humorada.

- Muito engraçado Gabe. – Começamos a sorrir estranho como todos os nossos problemas haviam desaparecido, pelo menos por hora. – Onde estamos indo afinal?

- Surpresa. – Revirei os olhos, passamos mais alguns minutos em silencio, Gabe passou por um outdoor que falava de vestibular. – Já pensou no que quer cursar na faculdade?

- Não. – Era a mais pura verdade, ele pareceu não acreditar, pelo seu olhar. – É serio, não sei. E Você?

- É complicado.

- Me recuso a aceitar essa resposta Gabriel De La Cour. – Ele pareceu ponderar, antes de me responder.

- Medico. Gostaria de salvar as pessoas.

- Não consigo imaginá-lo como medico.

- Não? Mas sou tão charmoso.

- E presunçoso também.

- Faz parte do meu charme. – Nunca havíamos ficado assim, era como se ali comigo, Gabe pela primeira vez, fosse ele mesmo.

- E vai cursar medicina?

- Não. – Triste, era exatamente isso que ele era, embaixo de toda aquela presunção, orgulho e todo resto, se escondia um menino triste.

- Pena você seria um ótimo medico. – Se me perguntassem isso uma hora atrás, eu diria q não, Gabe não dava pra isso, mas naquele momento, tudo tinha se transformado.

- Quem sabe um dia.

- Sim, quem sabe. – Olhei para fora, uma fina garoa caia, não tinha nenhum casaco comigo, me encolhi e me esfreguei meus braços.

- Tenho um moletom, ali atrás. – Sorri para ele, tirei o cinto de segurança e me debrucei para trás, alcancei seu moletom e algo caiu do seu bolso.

- Você carrega um espelho?

- Todos nós carregamos.

- Todos nós quem? – Sua cara indicava que ele havia falado demais, vesti seu moletom e Gabe não disse mais nenhuma palavra, o clima no carro ficou tenso. – Estamos chegando? – Desconversei, ele não me contaria nada mesmo.

- Quase. – Começávamos a entrar em uma cidade, tudo indicava que era daquelas pequenas, onde todos sabem da vida um do outro. A cidade parou para nos ver passar, também com um carro daqueles, quem não pararia.

- Esse lugar não... Não me é estranho.

- Não?

- Gabe, por favor, me diga que você não me trouxe onde estou achando. – Ele ficou serio, encarando apena o asfalto na nossa frente.

- Me leve de volta agora, você não tinha esse direito.

- Não vou voltar, tenho uma promessa a cumprir. – Aquilo era um pesadelo, quem ele pensava que era para se meter na minha vida daquele jeito?

- Que promessa? Ficou maluco Gabe?

- Talvez.

- Gabe, quero voltar.

- Faça um esforço Jasmim.

- Esforço por quem? Ela não está mais aqui para ver esforço algum.

- Faça por você mesma. – Percebi que era inútil argumentar com ele, assim que Gabe parasse o maldito carro, pegaria um ônibus ou sei lá o que para casa. Finalmente chegamos onde ele queria, desci do carro e bati a porta, caminhei pela calçada na direção oposta de onde ele planejava.

- Aonde você vai Jasmim?

- Para casa.

- Com que dinheiro? Porque não vi você pegar nenhum. – Droga era verdade, não tinha nenhum dinheiro, nenhuma roupa, nenhum documento.

- Ótimo. – Disse derrotada.

- Qual é não pode ser tão ruim assim, pode?

- Pode. – Estava muito, nervosa, irritada e sei lá mais o que.

- Venha, como eu disse, tenho uma promessa a cumprir.- Não tinha outra opção a não ser segui-lo.

Aquele lugar me dava arrepios, começamos a passear pela lapides, a garoa estava molhando nossos rostos, Gabe ia na frente, como se soubesse o caminho de cor, eu nunca tinha ido naquele lugar e preferia ter continuado assim.
Todos aqueles túmulos, todas aquelas pessoas amadas que se foram, o lugar era deprimente, ao longe ouvi um padre dizendo algumas palavras, não puder ver nada, mas o choro dos familiares era de cortar o coração, com certeza a tristeza fazia morada lá.
Gabe pegou minha mão, como se para me dar forças e eu precisava disso, precisava de forças para continuar, o caminho parecia se tornar mais difícil, meus passos estavam pesados e meu coração triste. Paramos na frente da lapide dela.
Cecília Goldin Acaiah Amada esposa
Nenhuma menção a amada mãe, meu pai era um ser absurdamente egoísta.

- Ciça. – Ele fez uma reverencia para ela, fez uma reverencia para a minha mãe, não sei bem o motivo, mas aquilo deu um nó na minha garganta. – Trouxe a Jasmim, como te prometi. – Essa era a bendita promessa, me levar ao tumulo da minha mãe. Espera aí, Ciça?! Que intimidade era essa?!

- Ótimo Gabe promessa cumprida, vamos embora agora? – No tumulo dela havia uma foto em preto e branco, quase desmaiei quando prestei atenção nela, éramos idênticas, tirando claro o fato de que ela parecia ser uns anos mais velha.

- Vocês não são parecidas? – Gabe disse após acompanhar meu olhar.

- Ela é... – Era a criatura mais linda que já tinha visto, nunca havia visto uma fotografia da minha mãe antes. Mesmo sendo só uma foto, dava para ver como éramos diferentes, ela parecia tão meiga, tão doce, tão feliz. – Linda.

- Vocês duas são lindas.

- Porque me trazer aqui Gabe?

- Porque quero que você converse com ela. – Fechei meus olhos, cansada. – Ela pode te ouvir, não precisava ser aqui, mas queria que você a visse. Queria que visse como você é linda e o quanto era importante para ela. – Não entendi a ultima parte, mas deixei passar.

- Não sei como falar com ela. – Comecei a chorar, as lagrimas se misturaram a garoa, meu peito estava pesado, mal conseguia respirar. – Nunca disse nada a minha mãe.

- Estou aqui vou te ajudar, ok? – Assenti com a cabeça, enquanto ainda chorava, ele se colocou atrás de mim e me abraçou, nós ficamos de frente para sua lapide. – Conte sobre a escola. – Minha voz, demorou alguns minutos a sair.

- Oi mãe. – Deus como isso era difícil. – Aham a escola... Vou bem na escola, tirar notas altas não é difícil. – Não sabia como continuar.

- Fale sobre seus amigos. – Disse Gabe.

- Minha melhor amiga se chama Ana, somos amigas há muito tempo, ela é tão engraçada e doida, acho que ela faria você rir. – Meu choro aumentou, Gabe apertou seus braços em minha volta. – Andei conhecendo pessoas novas, como o Teddy e o Rafael...

- Só para você saber Ciça, não aprovo essas duas ultimas amizades. – Fui obrigada a rir, ele falava com ela tão naturalmente, como se minha mãe estivesse mesmo ali e eles se conhecessem há anos.

- Mãe. – Continuei. – Conheci um menino, Gabe... – Disse mentalmente, gosto tanto dele mãe, ele tem segredos, mas ele me faz rir, me deixa feliz, ele é importante e não sei o que fazer.

- Hum a conversa ficou particular? – Ele me perguntou, sorri em meio às lagrimas e continuei, antes que a coragem fosse embora.

- Acho que ele não confia em mim, porque não me conta seus segredos. – Ele trocou de perna, como se ficasse apreensivo, mas não deixou de me abraçar. – O mandei embora no hospital, mas me arrependi assim que ele saiu pela porta, porque de alguma maneira estúpida, não consigo ficar longe dele. – Me ajuda mãe, pedi por pensamento, se está mesmo me ouvindo, me ajude.

- Viu não foi tão ruim foi?

- Foi difícil, mas não foi ruim. – Fiquei de frente para ele. – Não queria ter te mandado embora, quer dizer queria... Não sei... Não quero ficar sem você na minha vida. Ele abriu um sorriso enorme, beijou minha testa.

- Venha quero te levar a outro lugar agora. – Olhou para o tumulo da minha mãe. – Tchau Ciça. Obrigado. – Fiz cara de questionamento. – Ela me deu você.

- Tchau mãe. – Caminhamos de mãos dadas de volta para o carro e parecia que o peso do mundo finalmente tinha sido tirado das minhas costas.

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