domingo, 15 de maio de 2011

O Ultimo Beijo Capítulo 2

Entrei em casa e ela estava vazia como sempre. Não estava a fim de almoçar, depois comeria qualquer porcaria quando a fome batesse. Fui direto para o meu quarto. Ele era todo rosinha, mas não era muito grande. Uma cama, um guarda roupa com uma penteadeira e uma mesa de escritório com abajur e o computador da era pré-jurássica.
Entrei no MSN e meus poucos amigos estavam off-line, é engraçado imaginar que há tão pouco tempo isso nem existia e ninguém sentia falta, hoje em dia, não me imaginaria sem, mesmo não tendo uma vasta lista de amigos.
Tomei um banho, graças a Deus havia um banheiro no meu quarto, a gente não se mudou enquanto meu pai não encontrou uma casa onde houvesse duas suítes. Na época foi um exagero já que só tinha sete anos, mas hoje em dia entendo seus motivos, ele não queria ter que dividir sua privacidade com uma adolescente, alias não creio que ele curta dividir muita coisa comigo.
Sai do banho, coloquei um vestido vermelho meio velhinho só para ficar em casa, ultimamente estava fazendo muito calor. A fome agora estava dando sinais de sua presença pensei em comer um macarrão instantâneo era pratico e minha comida favorita.
Fui para a cozinha prepará-lo, enquanto a água fervia, não conseguia parar de pensar naquele tal de Gabe. Porque diabos aquele menino esquisito estava me tratando daquele jeito, meu consolo é que não parecia ser algo pessoal, com a Ana ele também não foi muito agradável.
Ele é completamente diferente de todos os meninos que conheço, não só pelo fato de ser grosso ou porque ele é lindo, realmente muito lindo, mas ele me assusta por algum motivo. Ele tem um olhar superior, uma presença intimidadora, um ar esnobe como se conhecesse tudo o que passa pela sua cabeça. Algo nele era além do normal. Algo nele chamava minha atenção, mas ao mesmo tempo me dava arrepios.
Nesses momentos queria muito ter minha mãe comigo, para poder conversar essas coisas de meninas, mas não tenho mãe, nem ao menos um pai presente então ia ter de me contentar em comer meu macarrão instantâneo, sozinha e sem conversar. Terminei de prepará-lo, arrumei a mesa e almocei sozinha de novo.
Lavei a louça, sequei, varri a casa, arrumei a minha cama a do meu pai não precisava ele nunca estava lá para dormir nela, tirei pó, liguei a TV, minha mente voou até Gabe novamente. O telefone tocou. Tirando-me dos meus devaneios. Era a Ana.

- Ai amiga. Não vou com a cara dele. Ponto final.

- Também não, mas ele está no nosso grupo até o final do ano.

- Infelizmente. Bom vamos olhar os pontos positivos do menino. Ele é um gato.

- Ana, por favor.

- Acaiah você é meio bobinha, mas não é cega, qual é, vai me dizer que não amou aqueles olhos azuis?

- Pretos, os olhos deles são pretos. – Como ela poderia não ter notado que eram negros?! Aqueles olhos que pareciam varrer o calor de tudo ao redor.

- Joguei verde e colhi maduro. Há Há Há, viu só como você notou o cara. – Droga. Sempre caia nas armadilhas dela.

- Certo notei, ele é gatinho, mas ainda não gosto da presença dele.

- Nem me fale, ele me dá arrepios, mas vou ter que me aproximar dele.

- Por quê? – Meu coração disparou sem explicação.

- Não fala nada, não ri, mas o amiguinho dele... Sei lá, me parece tão fofo. Bom na verdade fofo não seria um bom adjetivo. Ele é um gatinho. Ele tem um ar misterioso nos olhos. Ai ai... Bom vou ter que ir agora. Beijos.

- Beijos, mas Ana não acho uma boa idéia. Ele pode ser tudo isso que você está dizendo para falar a verdade não reparei no cara, mas se ele é amigo do Gabe, não pode ser boa coisa. – Ela já havia desligado. Ótimo.

Desliguei o telefone, estava me sentindo tão cansada que poderia deitar e dormir até o dia seguinte, mas ainda tinha deveres para fazer, todos os dias as professoras passavam olhando os cadernos e eu não precisava de notas ruins que só deixariam meu pai furioso. Concentrei-me nos exercícios e tentei afastar aquele imbecil e suas grosserias da minha cabeça, esforço inútil. A primeira aula do dia seguinte só podia ser biologia claro uma hora e meia com Gabe.

- Acaiah você não vai acreditar, encontrei o menino novo na entrada e conversamos vários minutos agradáveis. – Aquilo me atingiu. Como assim Gabe e a Ana haviam conversado por vários minutos agradáveis?!

- Que menino novo? – Tentei disfarçar meu nervosismo, mas acho que perguntei rápido demais.

- Nossa Acaiah que bicho te mordeu? – Ela não esperou resposta. - Danny o menino novo, porque aquele que deveria estar sentado aqui conosco parece um doido, com certeza ele não se enquadra na categoria “menino” para mim.

- Aham. – Vou confessar fiquei aliviada de não ser o Gabe. - “Danny”. O tal “Gatinho”. Sei. E sobre o que conversaram? – Na verdade estava só sendo educada, não queria saber sobre o que conversaram. Queria que Gabe estivesse ali, porque havia ensaiado umas respostas daquelas bem dadas para dar.

- É Danny sim, sua chata. Daniel. Ele é uma graçinha, acho que estou afim dele. – Ela sempre achava que estava a fim de alguém e fazia uma cara tão boba quando dizia isso. Tinha inveja disso, porque ao contrario de mim ela se apaixonava, mas esse fato sempre era passageiro, ela só queria curtir, palavras dela.

- Isso não é rápido demais? Ele está interessado em você? – Onde estava Gabe afinal?!

- Não é rápido demais ele é o maior gato do colégio e sei lá... Ele me deu o maior mole. – Olhei para ela brevemente quando ouvi uma fungada, o que significava que ela estava brava. - Por favor, Acaiah pare de olhar para a porta, ele está no fim da sala.

Me virei subitamente e Gabe estava sentado no fim da sala, dessa vez percebi o tal amigo. O tal de Danny era lindo mesmo. Os olhos em um tom de castanho escuro, o cabelo quase loiro, com uma franja jogada para um lado, mas Gabe ainda era prioridade, afinal de contas o outro ainda não tinha me dado coices então, estava livre por enquanto.

- Nossa. Não o vi entrar.

- Ah! Quer dizer que era ele que você estava procurando? – Hum. Como ia sair dessa agora?! A Ana era do tipo de pessoa que nunca esquecia um assunto.

- Ah, claro que não. Do que Você está falando Ana?

- Nem tente me enrolar, joguei verde e colhi maduro, de novo. Você estava esperando ele entrar na sala. Olha, você tem um gosto meio peculiar minha amiga, o cara é sei lá... No mínimo estranho, com aquela cara de mal, mas fico aliviada, estava começando a pensar que você era lésbica, não que eu seja preconceituosa, mas assim vamos ter mais assuntos em comum: Homens.

- Ana, você viaja. – Ela sempre me fazia rir. Só que dessa vez ela estava certa, porque estava procurando aquele idiota? O único motivo no qual conseguia pensar era que queria fazê-lo engolir sua grosseria. Isso não era nada de mais.

- Sei. – Ela fez sua cara típica de você não me engana não. - Ele parece bem amiguinho da Samara.

- É. – Não havia percebido ela ao lado dele. As três Glitter sentavam próximas a ele. Pareciam urubus em cima da carniça. – Não sei como ela o agüenta. Pensando bem não sei como ele a agüenta. – Olhei para eles de novo, Gabe falava no ouvido dela, enquanto Samara dava risadinhas, aquilo me deixou irritada. - Com certeza eles foram feitos um para o outro. – Rimos em uníssono, mas estava rindo por fora, minha vontade não era de rir. O que aquela ruiva sem graça tinha afinal que todos os meninos da escola babavam por ela? Primeiro o Doug na quinta seria, agora Gabe. Com a Samara ele parecia estar sendo bem educadinho.

- Mudando de assunto colega você já assinou a lista?

- Que lista?

- Estão passando uma lista com os nomes do pessoal da sala e o MSN. Acho que vai ser divulgado para a galera se conhece melhor. Nossa turma esse ano é bem grande comparando com as outras e tem bastante gente nova.

- Hum... Não preenchi não e também não tenho muito interesse nisso.

- Hey, está na hora de ampliar seus horizontes e a lista de contatos né minha cara. Deixa que preencho por você. – Preferi não discutir, ninguém ficaria me adicionando mesmo. – Você tem que socializar Acaiah.

Depois do anuncio da nossa professora de que a aula seria ao ar livre, terminei de desanimar, o dia não tinha como piorar. Para que ir lá fora? Naquele sol? Isso era para as Glitter’s que tinham o corpo perfeito, não para mim, que ia ter de agüentar aquele calor com o moletom do uniforme.
Apesar de não ser gorda, nem magra demais, não gostava de ficar me mostrando na escola com pouca roupa. Tinha um pouco de vergonha.
Já estávamos lá fora, a Ana estava conversando com alguém, que eu não fazia a menor questão de saber quem era. A excluída era eu, ela era até que bem popular na verdade ela nunca ficava sozinha sem que realmente quisesse ficar, ao contrario de mim ela não curtia muito a solidão.
Estávamos lá fora, estava olhando para o nada quando ele se aproximou, por trás de mim, pude sentir a respiração dele em minha nuca, vou ter que confessar mesmo odiando o menino, aquela sensação foi boa.

- Está quente aqui, porque está de moletom? – Me virei para encará-lo, tinha ensaiado tantas respostas em casa, mas ali na frente dele, não me lembrava de nenhuma.

- Porque não. Pode rir, se isso vai te fazer bem. – Comentei essa ultima parte porque percebi que a ruiva da Samara estava rindo e apontando para mim. Desviei o olhar.

- Não quero rir de você Jasmim. – Meu susto foi tão grande que olhei para ele, seus olhos escuros pareciam decifrar o que estava sentindo, meu coração batia rápido.

- Não entendo você.

- Sou complicado.

- Hey vocês dois. Podemos começar? Alguém tem que fazer os trabalhos né. – Ana chegou e começamos a fazer as tarefas, só falávamos o necessário sobre o trabalho.

Algumas vezes me peguei olhando para ele, mas pior que isso foi que a Ana me pegou olhando para Gabe. Ela estava com uma cara de deboche, ele percebeu com certeza, queria matá-la.

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