sábado, 14 de maio de 2011

O Ultimo Beijo Capítulo 1

Noite passada, tive o mesmo pesadelo de sempre.
Está chovendo, acordo no meio da noite, sinto que há algo errado, desço as escadas descalço e correndo, saio na rua, um carro está parado lá, bem no meio, com todas as portas abertas, me encharco inteira, mas não ligo. Corro até o carro, uma mulher está estirada lá, tem sangue por toda parte. Ela apenas diz, “Cuide do meu bebê” olho em volta não há criança alguma.
Digo a ela que “Não consigo encontrar seu filho”. De repente ela vira um homem todo de preto que agarra meu pulso e diz “Te Achei”.
Acordo suando, de novo. Olho no maldito relógio, fico com mais raiva ainda, faltam cinco minutos para ele despertar. Hora de ir para a escola. Poderia voltar a dormir, mas perderia a hora, moro praticamente sozinha não tem ninguém para me acordar. Levanto, escovo os dentes, me jogo no chuveiro, visto qualquer coisa, prendo o cabelo em um rabo de cavalo, desço as escadas de tênis e sem correr, não tomo café da manha, espero largada no sofá o ônibus escolar buzinar, lembro do pesadelo. O que significa sonhar com a mesma coisa há dez anos?! Entro no ônibus, durmo até o colégio. Alguém me chacoalha, acordo e me encaminho para o matadouro, ou sala de aula, como chamam. Encontro a Ana no caminho.
Minha melhor amiga é o que salva aquele lugar, estudamos juntas desde a terceira serie. Sabemos o que a outra está sentindo ou pensando só de olhar. É como se houvesse um código secreto, uma coisa diferente entre nós duas, quando sonho com a Ana, é porque ela precisava ou quer muito falar comigo.
Apesar de sermos de mundos diferentes, ela me entende, talvez não me entenda, mas me aceita o que já é uma grande coisa. Vivo no meu mundo e as pessoas não gostam muito de gente assim. Não é que eu seja estranha, nem pirada, mais sou um pouco mais tranqüila do que o normal, já ela é pura animação, ela é meio cabeça de vento, sempre a achei meio louca, mas a conheço o suficiente para saber que é a uma das melhores pessoas do mundo.
Enquanto moro em uma casa modesta com meu pai, ela mora em um sobrado enorme com seus pais, no plural, sua irmã e seu cachorro. O mais importante de tudo isso é que ela nunca, jamais me deixou na mão.
Já fazia uma semana que as aulas haviam começado, e ainda não tinha conseguido me sintonizar a sala nova, as matérias novas, os professores novos e tudo aquilo me parecia muito chato.

- Ah Acaiah, você notou os dois meninos novos da nossa sala? – A Ana enfatizou bem o número.

- Não Ana, nem reparei. O que têm eles?

- O que têm eles? O que têm eles? – Ela me olhava com uma feição exageradamente indignada, que chegava a ser engraçada - Oh meu deus, de que planeta você veio?! Acaiah você precisa se atualizar amiga, você está no ensino médio colega. Homens independente de serem bonitos ou feios será nossa pauta para conversas futuras.

- Nossa já vi que você vai fazer monologo. – Rimos juntas. – Digamos que esse assunto não seja lá bem a minha especialidade.

- Será amiga. Será. – Se ela tinha razão eu não sabia, mas ter um namorado e ser uma garota normal não me deixaria nada triste.

Aguardamos a professora iniciar sua aula de biologia, que particularmente era um saco. Para mim a aula era ouvida mais ou menos assim “Blá, blá, blá”, mas aquele dia foi diferente. Aquele dia mudou tudo.

- Pessoal, não adianta reclamar, não haverá alterações e pronto. – A professora dizia em meio a alguns protestos da turma. Virei para Ana, eu não havia prestado atenção.

- Reclamar do que? – Ela revirou os olhos.

- Por favor, Acaiah. Jesus. A professora vai nos separar em trios para as aulas no laboratório e ela vai sortear os nomes. – Ah isso era ruim.

- Oh meu Deus. Tomara que a gente fique juntas, não quero ficar com o lado Glitter da sala. – O lado Glitter era composto pelas Paty’s. Não tinha nenhum problema com elas, elas é que tinham um problema comigo, pelo simples fato de eu não usar a maquiagem ou as roupinhas de grife delas. Isso por si só era um fator determinante para elas me taxarem de perdedora. Elas são extremamente arrogantes e acham que o mundo gira em volta dos piercings de seus umbigos. Ok, eu não gostava muito delas também, preferíamos a cordial distancia.

- Que os anjos digam amém. – Agente iria precisar de muita sorte. Então esperamos nossos nomes serem chamados. Conforme a professora tirava pedaços de papeis de um saquinho vermelho e anotava os trios no quadro, o friozinho na barriga aumentava. Finalmente ouvi meu nome.

- O próximo nome é... Jasmim Acaiah e seus colegas serão... – Meu coração parecia que ia saltar pela boca. – Ana Paula Werner e... – Ela desastradamente derrubou o pedaço de papel no chão, aquela agonia estava me matando. Tudo menos uma das Glitter era só isso que pedia... – Hum Vejamos, Gabriel De La Cour.

A Ana parecia que ia ter uma sincope, de tão feliz, mas quando ela se virou para ver quem era, seu sorriso muchou. Fiquei curiosa, o que poderia te-la desapontado, afinal ela andava com os hormônios à flor da pele. Foi então que foquei meus olhos em Gabriel, na mesma hora meus braços ficaram arrepiados, uma voz na minha cabeça gritava perigo. Ele era a criatura mais estranha que já tinha visto.
Nunca havia reparado nele dentro da classe. Não saberia dizer se estava lá desde o primeiro dia de aula ou não, mas também não fazia a menor questão de conhecer a turma. Só conhecia as Glitter porque elas lamentavelmente já haviam estudado conosco no ano anterior. Se bem que qualquer um repararia naquelas peruas escandalosas. Voltei a olhar para a Ana.

- Bom, pelo menos estamos juntas. – Ela disse, confirmei com a cabeça e todos se levantaram para ir ao laboratório.

Chegando lá sentei no meio, porque a Ana não queria ficar perto dele, para falar a verdade, nem eu queria, mas alguém tinha de fazê-lo.

- Covarde. – Cochichei, ela sorriu e mostrou a língua.

- Por favor, um de cada grupo, terá de ir lá fora buscar, exemplares para nossa aula. - Levantei queria sumir dali, não estava acostumada a lidar com meninos, piorou desses estranhos de quem você quer fugir desesperadamente, mas a Ana foi mais rápida, quando dei por mim ela já estava fora do laboratório. Ótimo agora teria de falar com ele.

- Hum Gabriel. Gabriel? Hei. – Perfeito, ele estava me ignorando.

- Gabe. – Ele disse sem me olhar.

- Como?

- Gabe. Me chame de Gabe.

- Hum. Certo. Gabe. Poderíamos começar a... – Ele me interrompeu.

- Sua voz me dá dor de cabeça. – Bom, estava começando a odiar esse garoto.

- Isso é uma pena, mas você terá que me agüentar até o final do ano. – Ele olhou para mim pela primeira vez, que olhos eram aqueles, de um preto surpreendente. - Portanto... Poderíamos começar...

- Você é boa.

- Boa no que?

- Boa, mas chata.

- Olha você nem me conhece garoto.

- Nem pretendo. – Ia responder, mas a Ana chegou com os materiais para a aula e resolvi me calar. Quem ele pensa que é para tratar as pessoas assim?! Ou ele era um ogro, ou era retardado mesmo. Começamos o trabalho e a Ana resolveu quebrar o silencio.

- Então Gabriel de que escola você veio? – Coitada não sabia o que a aguardava.

- Gabe.

- Hum, Gabe. Legal gostei do apelido. – Ele revirou os olhos.

- Mas de que escola você veio? Você conhece o outro menino novo?

- E você conhece a definição de silencio? – Ops, isso não ia acabar bem, a Ana não aceitaria um corte na boa.

- Qual é a sua garoto? Sua mãe não te deu educação não?

- Com certeza, já sua mãe pelo visto não sabe controlar a filhinha. – O rosto dela estava vermelho, muito vermelho. Ela não ia parar com aquilo e pelo visto ele também não.

- Chega. Os dois. – Eles me encaram com cara de não se meta nisso, mas cederam, nem mais uma palavra foi emitida durante a aula. Assim que o sinal bateu, ele saiu correndo.

- Meu Deus Acaiah, que moleque estúpido.

- Nem me fale! – Sinceramente não queria ficar falando sobre ele, queria ignorá-lo o resto do ano e pronto.

- Nunca julgue um livro pela capa. – Olhei para ela com olhar de pergunta. – Qual é?! O cara é um mala, mas tenha dó Acaiah, ele é lindo demais, chega a doer.

- Sei lá, não reparei. – Mentira. – Ana vou correr meu ônibus já está indo e sem mim.

- Não reparou né, tá bom. Te ligo depois. Beijos.

- Beijos.

Ela morava há duas quadras do colégio, mas eu tinha de pegar o ônibus escolar para ir embora. Como cheguei atrasada estava lotado, só sobrando um lugar lá no fundo, bem ao lado de um garoto, reconheci Gabe e minha vontade foi chorar, faltavam 25 minutos até chegar em casa e o caminho seria longo.
Arrastei-me até aquele lugar. Não estava com a menor pressa de sentar ao lado dele. Depois de uns minutos ele puxou conversa.

- Porque sua amiga te chama pelo sobrenome? – Minha vontade foi de mandá-lo tomar lá naquele lugar.

- Agora você quer conversar? – Como não obtive resposta, respondi, não sei por que, mas o fiz. - Porque ela acha meu nome feio.

- E você gosta de ser chamada do que? – Não queria responder, não queria falar com ele, ou talvez quisesse sim.

-Tanto faz. Nunca liguei muito para isso.

- Jasmim combina com você. – Vou confessar, estava esperando um elogio. - Doce demais, Frágil demais e não é muito bonita. Definitivamente, não é a minha flor favorita. – Olhei para ele pasma o que tinha de errado com esse garoto afinal?!

- Obrigada. – Aquilo doeu e acabou me fazendo lembrar o porquê nunca chegava perto de garotos. Eles eram uns idiotas.

Nunca tinha beijado ninguém. O único garoto por quem me apaixonei era meu amigo Doug ele era apaixonado por uma daquelas malditas Glitter. E isso foi na quinta serie, quando as Glitter ainda nem sabiam ler, apesar de que acho que elas ainda não sabem.
Nunca mais quis ter amigos meninos. Não me fazia falta, e não me acrescentava em nada. Olhei para fora e graças a deus estava na frente de casa. Peguei minha mochila, não voltei a olhar para ele, desci do ônibus, convicta de uma coisa: Odiava Gabe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário