domingo, 15 de maio de 2011

O Ultimo Beijo Capítulo 10

- Você vai ficar ai? Podia ao menos me fazer companhia enquanto cozinho seu jantar.

- Ok, era a Ana. – Ele me olhou questionando. – No telefone.

- Percebi vocês se conhecem ha um bom tempo não? – Ele dizia enquanto se virava e batia os ovos, a farinha, o leite e o óleo no liquidificador.

- Sim, de infância. Quer dizer assim que me mudei para cá, nós estamos na mesma classe desde então. – Disse indo para a cozinha.

- Você gosta dela? Ela parece meio impulsiva demais.

- Ela é como se fosse minha família, já me acostumei com seu jeito, mas admito que leva um tempo.

- Você pode continuar batendo enquanto preparo o recheio?

- Claro! Achei que você não me deixaria ajudar.

- Mudei de idéia, faço isso as vezes.

- Sempre.

- Como?

- Nada pensei alto. – Dei um sorriso e ele também, reparei que Gabe quase nunca sorria, então esse momento virou um dos meus preferidos.

Abri a tampa do liquidificador, estava em êxtase, ele estava ali todo preocupado comigo, cozinhando para mim. Nem me dei conta que não havia recolocado a maldita tampa quando apertei aquele botão, bastou menos de cinco segundos para eu estar coberta de farinha, ovos e óleo.

- Oh meu deus! – Ainda consegui pronunciar.

- Ah Jasmim... Será possível que você não consegue lidar com um liquidificador? Deixe isso comigo e vá se limpar.

- Ok... Ao menos me deixe limpar o chão – Começamos a rir, ele era todo pratico, parecia até que a cozinha era dele e não minha.

Quando acabei o chão ele já estava fazendo as panquecas na frigideira e o recheio estava pronto, não conseguíamos falar nada que já começávamos a rir. Meu cabelo já estava duro, teria que tomar um banho.

- Gabe, desculpe não te fazer companhia, mas preciso de um chuveiro imediatamente.

- Tudo bem, logo o cheiro de ovo vai começar a apagar o de Jasmim. Eu termino aqui.

- Desculpe – Falei com vergonha. – Não demoro.

Subi as escadas praticamente me quebrando, Gabe estava na minha cozinha, tinha me agarrado e estava terminando as mais deliciosas panquecas que comeria na minha vida e eu tendo que tomar um banho porque estava fedendo ovos. Era o fim, mas ao menos estaria cheirosinha.
Ainda me pegava pensando se aquilo era real, tudo isso me assustava um pouco também, nunca tinha vivido nada parecido, já nem lembrava com tanta freqüência do dia do bosque e como ele era assustador com os olhos brancos... Aqueles olhos.
Balancei a cabeça afastando aquela lembrança, talvez tivesse sido só minha imaginação por achar ele tão estranho, acabei meu banho e me sequei, abri a porta do banheiro enrolada na toalha e enquanto pensava em que roupa colocaria não pude acreditar no que vi.

- Gabe?! Que diabos você está fazendo nesse computador? Ele estava sentado em frente ao meu computador, percebi que a minha pasta de conversas do MSN estava aberta. - Você esta fuçando nas minhas coisas?

Ele se virou lentamente para mim com uma cara de deboche... Que mudou completamente ao me ver, ele agora me olhava da cabeça aos pés, como se eu fosse uma daquelas estatuas gregas que as pessoas ficam apreciando.

- Ah, assim você realmente vai me deixar louco – Ele dizia meio de canto com a boca, ele jogou a cabeça para trás como quem buscasse controle, foi exatamente quando me dei conta que estava com um garoto no meu quarto, praticamente nua com os cabelos pingando.

- GABE SAI DAQUI – Gritei, mesmo que involuntariamente apontando com o dedo na direção da porta, ele se aproximou de mim e falou quase em meu ouvido

- Só vou sair, porque tenho certeza absoluta que em poucos segundos vou perder o controle – Ele dizia bem baixinho e devagar, quase ofegando. – E posso não responder pelas minhas atitudes.

Meu dedo apontado para a porta tremia. Algo em mim ate queria que ele perdesse o controle, algo em mim estava prestes a perder o controle. Respirei, inspirei e me concentrei.
Ele saiu e fechou a porta, por garantia passei a chave, sentei na cama, cansada, como quem se tivesse passado por uma batalha, uma contra mim mesma, diga-se de passagem.
Malmente havia dado meu primeiro beijo e estava prestes a perder o controle com um garoto que mal conhecia e que tinha namorada. Coloquei a roupa mais lentamente do que o costume, abri a porta e o cheiro estava delicioso, na cozinha a mesa estava, apenas com um prato, as panquecas estavam ali no meio da mesa, havia duas velas acesas nas extremidades dela e no centro ao lado das panquecas um pequeno vasinho que há muito tempo estava vazio na sala com flores, que pareciam recém colhidas do quintal.
Entrei na cozinha esperando que ele estivesse em algum lugar, senti um vento vindo da sala. Fui verificar e a porta estava entreaberta.

- Gabe? – Chamei antes de chegar à porta. – Gabe você está aí? - Nada. Sai na varanda e ele não estava em lugar nenhum. - Gabe? Não gosto desse tipo de brincadeiras. – Falei um pouco mais alto que o normal.

Silencio. Nem os grilos queriam me responder. Fechei a porta e olhei aquelas panquecas na cozinha, ele havia ido embora e me deixado ali com as panquecas, havia perdido a fome. Apaguei as velas e me sentei à mesa por um instante.
Provavelmente havia chego à hora de se encontrar com a Samara ou talvez ele tivesse ficado bravo comigo por tocá-lo do meu quarto. Não queria chegar à conclusão nenhuma, fui para a cama e percebi que ele não fechou o que estava vendo em meu computador, era a minha conversa com a Ana no dia anterior ao shopping, no dia em que fugi dele do bosque, estava bem na parte onde a Ana havia perguntado do Gabe e do bilhete e eu tinha dito que ele me dava raiva, e que não queria saber dele, pois ele era comprometido, Em seguida marcamos de ir ao shopping.
Talvez ele tivesse ficado com raiva por eu ter dito aquilo a Ana, mas enfim, era a realidade naquele momento, não havia sequer passado uma semana e já havia mudado muita coisa. Resolvi dormir.
O domingo passou sem muitos acontecimentos, comi a panqueca requentada e estava realmente deliciosa, Gabe cozinhava muito bem, pensei em ir ao bosque onde talvez ele aparecesse, mas estava frio e começava a chuviscar, então rapidamente desisti da idéia. Dei uma geral na casa que já estava limpa e resolvi estudar para a semana de provas.
Quase dormi em cima dos cadernos, os deixei de lado e resolvi tomar um banho, meu pai havia ligado perguntando se estava tudo sobre controle, às vezes ele me irritava com isso, se ele se importava tanto, porque nunca estava em casa?! Como se não soubesse que eu conseguia me virar bem sozinha e até era bem responsável, fui dormir extremamente cedo. Acordei de súbito.
Minha campainha tocando às onze da noite era uma grande novidade para mim, já estava dormindo e sabia que não podia ser meu pai. Ate fiquei com um pouco de medo, porque morava sozinha e não é uma coisa comum receber visitas às onze da noite, quando a casa esta apagada e silenciosa.
Desci os degraus na ponta dos pés e olhei pela pelo olho mágico para ver quem era a figura que estava na minha porta, não podia acreditar, abri a porta mais rápido que o imaginável.

- Ana sua doida! O que você ta fazendo aqui há essa hora? O que aconteceu? – Ela estava com uma bolsinha, a mochila da escola e um travesseiro.

- Orra Acaiah! Já que o seu telefone de casa deve estar deprimido com uma dona tão relapsa que não o atende resolvi vir mimir com você ou você realmente acha que eu agüentaria simplesmente fechar os olhos e dormir quando tenho muitas coisas pra te contar?! – Esqueci que tinha tirado o telefone do gancho.

Ela já tinha entrado, fechado a porta e estava subindo para meu quarto com um ar que indicava que a noite ia ser longa, fui atrás dela como se fosse para a forca, não me sentia confortável em ter acontecido tanta coisa na minha vida e não poder partilhar nada com ela. A Ana estava jogada nos pés da minha cama, já no lugar que passaria uma boa parte da noite.

- E daí como foi à praia? – Perguntei quase que por educação, enquanto arrumava o colchão no espaço mínimo para ela.

- Acaiah... Preciso te contar algumas coisas. – Se não conhecesse a Ana tão bem até diria que se tratava de uma menina muito seria, porque me olhava de uma maneira que não condizia muito com sua personalidade.

- O que houve amiga? – Sentei na cama aguardando maiores informações. Ela respirou fundo e me olhou nos olhos.

- Acaiah... Você sabe que sou meio doidinha, mas você realmente acha que posso ser maluca? – Queria fazer exatamente a mesma pergunta a ela.

- Sonhei com você, sei que queria fala comigo e não acho que esteja ficando maluca.

- Ok. Lembra aquele dia que fui caminhar na praia? – Fiz que sim com a cabeça. – Então, caminhei até as pedras, resolvi parar naquela que se estende para dentro do mar, fiquei sentada lá em cima pensando na vida, olhando a lua iluminando o mar, foi aí que apareceu uma sombra atrás de mim, que gelou até a minha décima quinta geração. - Sentia a minha espinha gelando só de imaginar a cena.

- Eu disse para você não sair sozinha. – Se fosse os pais dela, ela estaria bem encrencada agora.

- Eu sei, mas resolvi ir, fiquei com medo de olhar pra trás, vi que a sombra estava mais perto de mim e levantei rapidão sabe, mas dei um solavanco para trás sem querer e escorreguei. Sorte que ele tava perto e me segurou, porque eu ia despencar de lá. Era o Danny. – Minha boca foi parar em baixo da minha cama. – Ele me segurou pela cintura amiga e me puxou para longe da beirada. Daí ele perguntou se eu estava bem e eu disse que sim. Começamos a dar risada, achei que ele ia me beijar, mas ele me soltou e disse que a noite estava linda, concordei e resolvemos sentar para conversar um pouquinho.

- Amiga! Você ficou com o Danny?!

- Não Acaiah... Infelizmente não, ficamos conversando sobre a noite, sobre a praia, sobre aquele dia no shopping... – Ficamos nos olhando constrangidas ainda por aquilo. – Ele me pediu desculpas, mas falou que tiro ele do serio, me deu a maior lição de moral e falou que eu não devia ficar fazendo isso, disse que chamamos muita atenção e que alguém pode querer se aproveitar disso. Me disse que quando ele me viu fazendo caras e bocas para o tal Anderson, ele queria poder me dar uma surra e sumir com o menino. Ainnn amiga, ai perguntei por que e ele disse que alguma coisa em mim atraia muito a atenção dele, mais ele não sabia como lidar com isso. Claro que quis saber por que né, mas ele me disse que era complicado. - Complicado. Ele também era complicado. Isso já era quase uma regra entre amigos. - Não entendo porque não me beijou. Ele claramente disse que sentia ciúmes de mim, mas daí ele levantou e sentou de novo só que virado de frente para o lado que eu tava de costas e me abraçou meio de ladinho sabe, ficou lá respirando no meu pescoço, sem dizer nada e sem afrouxar os braços, abraçado comigo, disse que ainda vou deixar ele louco e que queria ser o suficiente para mim.

- Serio que ele te disse isso? Que lindo amiga! – Quem me dera se com o Gabe fosse assim. O menino estava parecendo um príncipe encantado.

- Pois é, ai ele me levantou e fomos abraçados até a minha casa, ele me deu um beijo na testa e foi quando aconteceu uma coisa muito estranha.

- Estranha?

- É... E é por isso que você pode me achar louca. – Ela respirou fundo antes de começar. - Lembro de ter ficado em êxtase, tão feliz que parecia que meu peito iria explodir e acabou. Não me lembro de mais nada, não lembro de como ele foi embora, não lembro de como entrei no quarto e fui dormir. Nada. - Ela abaixou a cabeça, podia ver que ela estava se sentindo patética ao me contar aquilo. Eu já tinha passado por isso, mas lembrava de ter visto algo mais, como os olhos brancos de Gabe e o beijo.

- Ana, sei que você não é louca amiga, você pode ter ficado sei lá, meio que em transe? Não se lembra de nadinha? – Não podia contar nada a ela, não era corajosa como a Ana.

- Não sei amiga... Não sei de mais nada. Só sei que nunca gostei tanto assim de alguém como to gostando dele. Sei que ele é estranho, mas naquela pedra, no escuro a luz da lua, com as ondas batendo e ele abraçado comigo... Queria que não acabasse amiga. – Conseguia compreender, também havia sentido a mesma coisa no mesmo final de semana.

- Bom amiga, não fica achando que está doida não, outra hora tentamos entender, fique susse.

- É talvez. E você viu o Gabe? – Como queria poder contar para ela tudo o que já tinha acontecido e tudo o que sentia. Não conseguiria esconder tudo por muito mais tempo.

- Vi sim. Ele é meu professor de artes marciais.

- Capaz! Como assim amiga?

- Nem acreditei, quando cheguei para a aula olhei para o professor e era Gabe e tem mais, o Rafael do shopping é aluno dele, junto com o Anderson.

- Que babado amiga coitado do menino, apanhou feio e com o foi à aula?

- Ele explicou defesa pessoal. Foi bem legal, conheci uma menina chamada Ariel, da nossa sala, ela praticou comigo. Depois no vestiário convidou todos para uma festa no próximo final de semana na casa dela, acho que é algo como festa Black, onde tem que ir de preto, em uma chácara.

- Serio?! Oh meu Deus! Temos uma festinha amiga, precisamos de shopping urgente. Tenho que comprar vestidos novos, mas porque preto? Precisa ser preto? Tudo bem preto emagrece... – Ela parecia ter esquecido o nosso assunto, estava de pé, andando em cima do colchão no chão de um lado para o outro. Melhor assim, eu precisava me policiar muito para não contar nada para ela.

- Ana, amanha discutimos isso. Vamos dormir que temos aula cedo.

- Só você mesmo para querer dormir com tantos detalhes para pensar, mas tudo bem temos cinco dias para pensar em algo que ponha as Glitter no chinelo, alias, será que a dupla dinâmica vai?

- Dupla dinâmica?

- Sim, os dois caras mais lindos e esquisitos da nossa escola, o Danny e o Gabe? – Eu ri.

- Dupla dinâmica é boa amiga! Só você mesmo. Não sei, mas pode ser, porque a pequena sereia convidou todo mundo. – Também queria uma resposta para isso, será que Gabe iria?!

- Pequena sereia? Depois eu que sou a piadista né! – Rimos juntas e apagamos a luz para dormir, claro que meu sono demorou a vir, mas demoraria muito mais se ficasse conversando com a Ana, precisava conversar com o Danny, se ele tinha o direito de vir me pedir para me afastar do Gabe, também precisava pedir alguma explicação sobre a Ana. Amigos defendem amigos, eles eram complicados e nós duas estávamos prestes a ficar loucas.

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